Coleção Folha Grandes Mestres da Pintura

Contexto histórico

"Retrocesso" histórico, avanço artístico

Colaboração para Folha Online

Podemos enquadrar Caravaggio entre os principais artistas do barroco, estilo predominante na Europa durante os séculos 16 e 17 e diretamente ligado à Contra-Reforma promovida pela Igreja Católica.

O protestantismo se disseminava pelo continente europeu e a Igreja Católica se viu ameaçada e obrigada a reagir contra as idéias disseminadas por Martinho Lutero desde o século 16. Enquanto o Renascimento havia sido marcado por uma retomada de consciência pelo homem, reconhecendo seu valor a partir da razão, no período barroco as pessoas viam-se mais fortemente subjugadas à Igreja e a um Deus punitivo. Resquícios da Idade Média e de suas sombras voltavam a ocupar as mentes e, por reflexo, as criações artísticas.

Caravaggio personifica o artista dessa época, homem em transição e rebelde às convenções, evidenciando através de seus quadros as luzes que "lutam" para penetrar as trevas: a Modernidade em conflito com o Medieval sombrio, a razão e as luzes lutando para comprimir o medo, tão caro ao catolicismo.

Os países da Europa onde o protestantismo se disseminou viviam, então, o início de uma mudança radical em sua estrutura sócio-econômica (um dos embriões do sistema capitalista): o trabalho era incentivado e a burguesia ia se fortalecendo. Ainda que conservadora, a ética protestante incentivava o trabalho, em países como Alemanha (berço de Lutero), Holanda e Alemanha. E isso preocupava a Igreja Católica.

Roma, cidade onde o artista viveu seu período mais produtivo, era palco do surgimento, a todo instante, de novas construções. O clero não "poupava" esforços para fortalecer a Igreja e expulsar idéias protestantes. Apesar de presentes em diversos templos católicos, muitos dos quadros de Caravaggio foram, à época, considerados realistas demais para os padrões religiosos. O artista, por sinal, gostava de usar pessoas comuns, encontradas em feiras e tavernas, como modelos para suas pinturas. Queria, dessa maneira, deixar clara sua visão de que os personagens bíblicos eram pessoas normais, como nós.