Coleção Folha Grandes Mestres da Pintura

Contexto histórico

Sob o signo da paixão

Colaboração para Folha Online

A rigor, a obra de Vincent van Gogh não pertence a nenhuma corrente artística específica. Na falta de uma classificação mais precisa, costuma-se incluí-la no rótulo genérico do pós-impressionismo, termo criado posteriormente para definir um grupo de artistas, de diferentes estilos e tendências, surgidos no final do século 19. Ao provocar uma ruptura com seus antecessores, anteciparam alguns pressupostos da arte moderna do século 20.

O impressionismo originara-se em Paris, entre 1860 e 1870. A invenção e a popularização crescente da fotografia impuseram aos artistas um dilema incontornável: qual a função que restava à pintura, se o novo invento era capaz de retratar o "real" com a maior fidelidade possível? Como solução para o problema, os impressionistas propunham que as artes plásticas, em vez de sucumbir diante do advento da fotografia, deveria superar a fase realista e se concentrar em formas subjetivas de captar o mundo, dando ênfase à luz e ao movimento.

Os primeiros trabalhos de van Gogh, feitos ainda na Holanda, revelavam uma forte preocupação social ao retratar, com tons sombrios e monocromáticos, a vida miserável dos camponeses, em um momento em que a Revolução Industrial modificava a vida nas grandes cidades e provocava uma onda de pauperização extrema na zona rural.

Em Paris, ao entrar em contato com os impressionistas, van Gogh deixou de lado as cores escuras e passou a explorar a luminosidade e um cromatismo intenso. Mas sua arte não se submeteria aos princípios seguidos pelos colegas parisienses. Na verdade, levaria o impressionismo às últimas conseqüências, radicalizando a experiência de representação subjetiva da realidade.

As pinceladas rápidas e enérgicas, as formas contorcidas e uso de cores primárias conferiam às telas uma dramaticidade única e revelavam a alma atormentada do artista. Van Gogh antecipava assim algumas características básicas do expressionismo, escola que romperá de vez com os padrões tradicionais de beleza. "Procuro exprimir as mais terríveis paixões humanas. Quero pintar o retrato das pessoas como eu as sinto e não como eu as vejo", dizia o artista.