Biografia - Salvador Dalí (1904-1989)
"Sou um monstro de inteligência"
Colaboração para Folha OnlineEle dizia que seus quadros eram "fotografias de sonhos pintadas à mão". Frasista inspirado, dono de uma verve irresistível, Salvador Dalí era um homem excêntrico, dado a surtos de exibicionismo e megalomania, o que ajudou a criar em torno de sim uma aura mítica de ousadia e loucura.
"As duas coisas mais felizes que podem acontecer a um pintor contemporâneo são: primeiro, ser espanhol, e segundo, chamar-se Dalí. Ambas me aconteceram", dizia, com sua insuperável capacidade para o marketing pessoal. "Todas as manhãs eu experimento uma delicada alegria - a alegria de ser Salvador Dalí - e me pergunto, em êxtase, que coisas maravilhosas esse Salvador Dalí vai realizar hoje?"
Nascido na cidade catalã de Figueres, na Espanha, começou a pintar por volta dos 13 anos, época em que seu pai organizou uma exposição familiar com seus desenhos a carvão. Cinco anos depois, em 1922, Salvador Dalí mudou-se para Madri, onde ingressou na Academia de San Francisco e conheceu o poeta Federico Garcia Lorca e o futuro cineasta Luis Buñuel. Com o primeiro, teria um caso de amor platônico. Com o segundo, viria a fazer os filmes surrealistas Um Cão Andaluz (1929) e A Idade do Ouro (1930). "Sou um monstro de inteligência", gabava-se.
Foi no mesmo ano das filmagens de Um Cão Andaluz que passou a morar com a russa Elena Dimitrievna Diakonova, dez anos mais velha do que ele e então casada com o poeta francês Paul Eluard. Diakonova, apelidada de Gala, ficará com Dalí até o último dia de sua vida. "Ela curou-me de todas as minhas angústias. Gala é a curandeira dos terrores", definia o artista, que jurava ser virgem até conhecer sua eterna musa.
A ruptura oficial com os surrealistas foi barulhenta. Salvador Dalí foi expulso das hostes do movimento pelo líder André Breton, que passara a defender a doutrina marxista. Dalí, acusado de compactuar com o fascismo, se disse um "anarco-monarquista" e desdenhou da expulsão: "O surrealismo sou eu".
No início da Segunda Guerra, em 1940, Dalí e Gala mudaram-se para os Estados Unidos, onde o artista colaborou com Alfred Hitchcock em uma seqüência do filme Spellbound (Quando fala o coração). O casal permaneceu nos EUA até 1955. Quando retornou a Espanha, Salvador Dalí declarou apoio ao ditador Francisco Franco. "Sou favorável aos períodos de inquisição. Quanto mais opressões, mais se é levado a precisar o que se deve dizer. Sim à repressão das liberdades", declarou.
A partir de 1982, com a morte de Gala, Salvador Dalí tornou-se um homem recluso, abatido pelo Mal de Parkinson. Deprimido pela ausência da mulher, recusou-se a comer e passou a ser alimentado por uma sonda nasal, com a qual posou para a capa da revista americana Vanity Fair.
Dalí viveria até 1989. Porém, os críticos mais rigorosos afirmavam que sua arte já morrera muito tempo antes dele, ainda ao final da primeira fase surrealista, na distante década de 1930. Depois disso, passara a viver apenas do escândalo e da polêmica em torno de seu comportamento pouco ortodoxo.