Biografia - Edgar Degas (1834-1917)
Um homem de verve e personalidade
Colaboração para Folha Online"Existe o amor e existe o trabalho, mas se tem apenas um coração". Esta frase, proferida pelo próprio Degas, reflete a escolha de vida desse excepcional artista, que viveu para a arte trabalhando incessantemente , mas que nunca teve um relacionamento amoroso "de verdade".
Hilaire-Germain-Edgar De Gas provinha de família abastada e nasceu em 19 de julho de 1834, em Paris. Descendia, por parte de pai, de ricos banqueiros napolitanos, e sua mãe era uma americana de Nova Orleans. Filho de apreciadores de música e artes plásticas, foi privilegiado por desfrutar do incentivo do pai, que permitiu que o jovem artista transformasse um dos quartos do apartamento em ateliê.
Foi também com o apoio do pai que o jovem Edgar abandonou a faculdade de Direito para se dedicar exclusivamente à arte: discípulo do pintor Félix-Joseph Barrias e depois de Louis Lamothe (que havia sido discípulo de Ingres), Degas logo realizaria viagens à Itália, passando por Roma, Assis, Orvieto e Nápoles. É dessa época seu notável retrato "A Família Bellelli", onde podemos notar uma "tensão" na expressão de seus tios, que viviam em Florença. Durante suas viagens à Itália (três em quatro anos), se empenha no estudo de artistas renascentistas, cuja maneira de desenhar seria de fundamental influência para o pintor.
Na sua volta a Paris, em 1862, conhece Édouard Manet, que viria a ser seu grande amigo e lhe apresentaria ao círculo de artistas que algum tempo mais tarde formaria o grupo dos "impressionistas". Homem de personalidade arredia e fechada, Degas tinha forte tendência para a melancolia, além de uma língua ferina. Chegou a ser apelidado de "Urso", dado o "perigo" que corriam aqueles que dele se aproximavam.
Sua proposital reclusão, porém, foi fundamental para que desenvolvesse seu apurado método artístico: incansáveis croquis e esboços eram feitos antes de cada tela. Ainda que muitas vezes apresentasse trabalhos de aparente simplicidade e casualidade, era através de muito estudo que conseguia atingir seu objetivo: obras quase "fotográficas", com cenas que parecem captar um momento único e inesperado, impressões efêmeras (daí sua inclusão entre os impressionistas) de uma espontaneidade calculada. "O que faço é resultado da reflexão e do estudo dos grandes mestres, não sei nada a respeito da inspiração", afirmava.
Ao contrário dos impressionistas mais "puros", gostava de trabalhar dentro de seu estúdio, fazendo uso de iluminação artificial. Era desse modo que conseguia apurar os traços do desenho. Seu objetivo era conciliar técnicas tradicionais com temas de sua época: personagens comuns como bailarinas, cavalos, mulheres trabalhando ou em momentos de intimidade eram seus preferidos.
Nos últimos anos de vida Degas foi progressivamente perdendo a visão, o que fez dele uma pessoa ainda mais reclusa e de difícil convivência. Isolado e com poucos amigos, viria a morrer em 27 de setembro de 1917, na Paris onde sempre viveu.