Contexto histórico
"Eu não aprimoro, eu sou"
Colaboração para Folha OnlinePablo Picasso dizia que passou a vida inteira para aprender a desenhar como uma criança. De fato, seus trabalhos de juventude seguiam à risca os padrões acadêmicos. Aos 15 anos, fez um retrato de sua mãe que comprova um domínio perfeito sobre a técnica do desenho e da pintura tradicional.
Nos quadros de suas duas primeiras fases, a "azul" e a "rosa", também demonstrou um inegável requinte formal, até que decidiu subverter os conceitos consagrados de harmonia e todos os padrões de beleza estética, ao pintar as figuras propositalmente distorcidas e fragmentadas de Les Demoiselles d’Avignon.
Impossível não notar a influência de Paul Cézanne na ruptura que Les Demoiselles provocou em relação a todas as convenções e dogmas da arte ocidental, abrindo caminho para as experiências do cubismo. Ao mesmo tempo, é interessante notar que o conjunto da obra de Picasso não pode ser reduzido a nenhum movimento específico, embora sua busca por novas formas de expressão tenha mantido conexões e sido cortejada por membros de diferentes vanguardas da arte moderna: cubistas, surrealistas, expressionistas e abstracionistas, entre outros.
O próprio Picasso rejeitava solenemente qualquer idéia de que houvesse um sentido evolutivo no cerne de seu trabalho. "Eu não procuro, eu acho", dizia. "Eu não aprimoro, eu sou", reforçava. Por isso mesmo, permitia-se lançar mão dos mais variados estilos, sem que isso significasse a busca de uma linha progressiva de um ponto específico para outro. "Os diversos estilos que empreguei em minha arte não devem ser considerados como uma evolução, ou passos rumo a um ideal desconhecido de pintura. Quando queria expressar algo, não o fazia pensando no passado ou no futuro".
Pablo Picasso demonstrava absoluta consciência de sua contemporaneidade: "Aliás, não há, na arte, nem passado nem futuro. A arte que não estiver no presente jamais será arte". Como bem observou o crítico e poeta mexicano Octávio Paz, a vida e a obra de Picasso confundem-se com a própria história da arte no século 20: "Ele foi, por excelência, o pintor de seu tempo, com seu inconformismo, negações e dissonâncias. Seus contemporâneos reconheciam-se em suas obras, embora nem sempre as entendessem".