Coleção Folha Grandes Mestres da Pintura

Contexto histórico

"Eu quero assassinar a pintura"

Colaboração para Folha Online

Joan Miró dizia que seu maior desejo era "assassinar a pintura" tal qual o mundo a conhecia. Se não conseguiu seu intento, chegou bem perto. Ele impôs uma mitologia pessoal e uma inovação até então sem precedentes no terreno da abstração. Seus quadros são compostos por figuras que por vezes lembram garatujas infantis ou rabiscos pré-históricos.

A obra de Miró é povoada por símbolos, alguns bastante recorrentes e figurativos, como as estrelas, os pássaros e a escada. Por meio deles, procura representar um universo que não pode ser decodificado pela lógica e pela razão, mas apenas apreendido pela sensibilidade do observador. Daí seu parentesco e seu envolvimento com o movimento surrealista, que propunha uma arte não-racional e intuitiva. A leitura da teoria psicanalítica de Sigmund Freud, com suas reflexões a respeito do inconsciente e da natureza dos sonhos, foi determinante para o surrealismo.

Embora tenha sido considerado por André Breton como o "mais surrealista entre todos os surrealistas", a obra de Joan Miró não pode ser enquadrada em um movimento específico. Desde o primeiro momento, Miró espelhou-se nas experiências de outras vanguardas do início do século, a exemplo do dadaísmo, do cubismo e do fauvismo. Mas permaneceu acima de todas elas, com sua linguagem original e particular.

O afastamento definitivo de Miró em relação aos surrealistas se deu a partir da década de 1930, quando Breton e outros companheiros aproximaram-se da doutrina marxista.