Coleção Folha Grandes Mestres da Pintura

Contexto histórico

As cores e os dramas de uma época

Colaboração para Folha Online

Delacroix nasce em 1798, quase 10 anos após os acontecimentos que culminaram com o que chamamos de "Revolução Francesa". Napoleão Bonaparte se tornaria Imperador em 1804 e, mesmo após sua prisão e exílio, em 1815, ideais iluministas continuavam a se disseminar, baseados numa visão de mundo centrada no indivíduo, na razão e na ciência para entender e explicar o mundo. É sob essa atmosfera que Eugène Delacroix inicia sua trajetória artística, marcada por obras onde representaria acontecimentos histórico-políticos e homenagens à democracia, à liberdade e à paz.

Considerado o maior expoente do Romantismo na arte, era um artista que acreditava que sua pintura tinha por dever expressar todo tipo de experiência emocional intensa: paixão, luxúria, tristeza, violência, morte, vitórias e derrotas. Seu uso inovador das cores, deixando de lado a tradicional técnica do "sfumato" ao se pintar sombras, também é marcante: Delacroix sobrepunha cores complementares para obter maior riqueza e vivacidade em suas telas (cada uma das três cores primárias possui sua complementar, que resulta da fusão das outras duas).

Essa inovação técnica iria influenciar artistas de movimentos posteriores, impressionistas e pós-impressionistas. Seu gosto por imagens exóticas influenciaria artistas do Simbolismo. Mas o perfil extremamente romântico iria contrapor Delacroix a artistas mais clássicos e acadêmicos, típicos das escolas de Belas Artes. Ingres talvez tenha sido seu maior "rival", e se notabilizou como "pintor oficial" ao retratar personagens históricos famosos, como Napoleão e sua esposa Josefina.

De produção intensa e contínua ao longo da vida, após sua morte foram contabilizados em seu estúdio 853 pinturas, 1.525 pastéis, 6.629 desenhos e diversas estampas, litogravuras e cadernos de esboços. Levava sempre um caderno à mão, a fim de poder passar para o papel toda idéia que lhe viesse à mente. Afirmava que "se você não tiver habilidade suficiente para esboçar um homem caindo pela janela no espaço de tempo que o corpo leva para chegar do quinto andar ao chão, então jamais será capaz de produzir uma obra de valor". Em outra de suas frases, definiu bem sua postura como artista e intelectual: "Deve-se ter audácia ao extremo; sem ousadia, sem extrema ousadia, não há beleza".